Você aparenta sua idade? A pergunta é um convite à reflexão. No universo de procedimentos estéticos ilimitados, a noção de tempo se perde em meio a agulhas, bisturis e cápsulas.
Mas, afinal, quem revela a idade são as escolhas feitas ao longo da vida ou as rugas que denunciam o virar de páginas do calendário?
As duas respostas estão interligadas. É que a longevidade tem conexão íntima com hábitos como a alimentação saudável, tida como um dos caminhos para entregar ao corpo a quantidade ideal de proteínas – e o colágeno, que garante o aspecto jovem, é proteína.
O correr dos anos é sentido – e transparece – na pele. O viço, a textura, a firmeza, a tenacidade denunciam se o que enche o prato é capaz também de preencher, naturalmente, o traçado do rosto, vida afora.
Para a médica dermatologista e nutróloga com capacitação em Medicina do Estilo de Vida, pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Fernanda Bach, a beleza pode ser comparada a um investimento que irá render com juros compostos ( que são os famosos juros sobre juros) no futuro.
“Eu me interesso muito em manter todas essas características respeitando quem eu sou e quem eu fui, sem recorrer a uma beleza plastificada ou padronizada. Isso não significa, em momento algum, ser contra procedimento estético, mas entender que nessa equação existe muito mais variáveis que precisam ser construídas e preservadas ao longo do tempo”, explica a especialista.
Envelhecimento na pele
Envelhecer é fisiológico e o processo é dividido em duas categorias:
- intrínseca | ligada à programação genética, o envelhecimento previsto nas células
- extrínseca | associada à exposição a luz, radiação do sol e tudo aquilo a que a pele é exposta ao longo da vida
Ambos exercem ações diferentes no corpo e podem ser combatidos – ou ter os efeitos mitigados, reduzidos – por meio de hábitos simples.
No caso do metabolismo, a estrada passa, necessariamente, pela alimentação onde o corpo encontrará fontes de telômeros, que são as partes dos cromossomos ligadas à longevidade.
E, vale o alerta: o excesso de açúcar envelhece.
“Pequenos excessos pontuais trazem inflamação associada. É um fenômeno de glicação proteica, que dentre outros mecanismos de impacto no colágeno, se apresenta como ligação das cadeias de açúcar a uma proteína, que nesse caso é o próprio colágeno, e essa ligação faz com que a gente tenha uma mudança estrutural da proteína e ela perde a função”, detalha Fernanda.
Já para as manchas na pele, o protetor solar é imbatível. Isso porque a radiação solar causa danos estruturais no DNA da epiderme, levando à mudança de espessura da pele e formação de manchas.
Além disso, há outro risco associado, como pontua a dermatologista: “o sol em excesso apresenta ação imunossupressora na pele, baixa a defesa da pele, facilitando a perda de controle de infecções, lesões inflamatórias e proliferação de células cancerígenas”.
Suplementar é preciso?
Aposta das celebridades – e assunto que sempre rende em entrevistas sobre beleza -, a suplementação de colágeno é uma das opções para suprir as demandas do organismo.
Só que, diferentemente do que se possa imaginar, o investimento na substância não é uma questão exclusiva de preocupação estética.
O colágeno é a proteína mais presente no corpo. E a composição da dieta no Brasil não oferece a quantidade suficiente para inteirar a demanda diária.
Segundo Fernanda, a refeição cotidiana do brasileiro fornece, aproximadamente, 1,5 gramas de colágeno, enquanto a recomendação para uso para que se veja inicialmente alguma melhora de pele através da suplementação é a partir de 2,5 gramas/dias.
Contra o relógio
Os antioxidantes têm papel fundamental na transformação do tempo em aliado do envelhecimento.
Destaque para os antioxidantes endógenos, que são aqueles produzidos pelo próprio organismo.
Se o termo parece distante, o atalho para potencializar o efeito é mais que próximo de hábitos incorporáveis (quando não já incorporados) ao cotidiano.
“O exercício regular promove um aprendizado do uso dos antioxidantes que temos no corpo e isso torna mais eficaz o combate aos radicais livres. E isso a gente consegue otimizar com exercício e com sono de qualidade”, revela Fernanda Bach.
Bom lembrar
Conquistar uma pele que conta com suavidade as histórias escritas durante a vida é uma questão de escolha. A opção por uma rotina saudável, em todos os aspectos. Da alimentação ao sono, é o trajeto mais difundido para chegar à terceira idade da (e na) melhor forma.
Para além de rugas ou marcas de expressão, a dermatologista Fernanda Bach traz uma frase do yogi, místico e escritor indiano que convida à reflexão: “a joyful face is always a beautiful face”, em português, um rosto feliz é sempre um rosto bonito.
“Hoje a gente vê indivíduos de 40, 50, 60 anos exibindo uma forma e uma beleza que são exemplares e que a gente precisa compreender que eles não ‘estão muito bem pra idade’, essa é a nova idade, esses são os novos 40 com cara de 40, os novos 50 com cara de 40, porque nós já compreendemos a prevenção, nós já dominamos os aspectos fisiológicos e chegamos a uma maturidade intelectual e emocional que nos torna atraentes e belos na nossa própria essência”, conclui.