Imagine uma rotina em que você acorda, toma sol e pratica a sua atividade física favorita antes de trabalhar. No café da manhã, se mima com uma mesa farta em cores, texturas e sabores – um carinho para si e para o seu organismo.
Na hora do almoço, ao invés de passar uma hora entre garfadas aceleradas e a tela do celular, você para, come com calma e usa ⅓ do seu intervalo para relaxar: tira os sapatos, coloca os pés na grama e se concentra apenas no agora. Num exercício de apreciar o presente.
A rotina ideal existe e é colocada em prática todos os dias pela nutricionista Roberta Carbonari. Ao longo do tempo, a especialista conseguiu implementar hábitos saudáveis ao cotidiano e não abre mão das pequenas alegrias da vida.
“Percebi que quando entrego ao meu corpo tudo que ele foi feito para receber e precisa, consigo vivenciar melhor essa rotina, com menor desgaste físico e emocional”, pontua.
Se o horário do almoço é invadido por uma ou outra atividade não prevista, Roberta dribla as adversidades com um combo de meditação mindful eating – com uma uva passa e um tabletinho de chocolate 70%.
“A ideia foi ter algo prazeroso entre minha manhã e tarde, mantendo o entendimento de que a necessidade após o almoço é de descanso, e não de doce, e meu hábito é a grama, mas que não é proibido encontrar prazer ao degustar um tablete de chocolate vez ou outra”, explica.
Para entender o que é o estilo de vida saudável e ajudar você a fazer uma autoavaliação do seu estilo de vida, o blog Puravida Prime teve um bate-papo com Roberta Carbonari e as respostas da especialista irão te surpreender.
O que é um estilo de vida saudável?
Sempre que penso sobre esse termo “estilo de vida saudável” não consigo deixar de analisar que somos parte de um sistema, ou seja, evoluímos e nos desenvolvemos enquanto seres humanos devido às condições naturais do ambiente em que estávamos inseridos.
A vida e a longevidade da raça humana se fez, e continuou em desenvolvimento, por meio de uma série de sinais que nós aprendemos a respeitar, como principalmente:
- nossa condição de animais diurnos em que cada célula de nosso corpo está cronologicamente ajustada ao ritmo que a natureza nos ditou (nascer e pôr do sol), aprendendo assim a importância da atividade diurna e do descanso/ sono noturno.
- aos alimentos que sustentavam nossa existência com excelência e plenitude, abundantes em todos os nutrientes que nosso corpo demandava, alimentos esses conquistados dentro de uma rotina de atividades, também necessária para nossa sobrevivência, como caçar, coletar, andar, correr e nadar.
- as relações e laços que fomos capazes de construir nos reconhecendo como seres frágeis. Não éramos os animais mais velozes, mais fortes ou com instintos de sobrevivência mais aguçados que os demais, mas éramos os melhores em contar e dividir histórias e experiências e, a partir do conhecimento, organizar estratégias e planejar essa força.
Ou seja, para sobrevivermos, nós estendemos a importância das relações para nossa saúde mental e integridade física. Viver em um grupo simbiótico que se auxilia e potencializa forças e habilidades individuais foi nossa forma de prevalecer sobre todas as espécies.
Como avaliar se a vida que eu levo tem elementos suficientes para ser considerada saudável?
Quando me questiono sobre esse estilo de vida saudável, gosto justamente de fazer um paralelo de como fomos programados para viver e sobreviver.
O que nos fez chegar até aqui? Será que eu mantenho, em meu estilo de vida, os hábitos que fazem parte da história da minha natureza?
Quando avaliamos esses pilares – atividade física diurna – descanso noturno – alimentação nutritiva – relações que nos fortalecem – e traçamos esse paralelo, fica mais fácil entendermos se nossa vida está sendo vivida como foi programada para que nossa natureza seja contemplada e portanto para que haja saúde e longevidade.
É preciso que todos os pilares mencionados na Medicina do Estilo de Vida*(A) estejam alinhados?
A vida moderna e o ambiente em que vivemos hoje nos conduz a focarmos em alguns pilares mais do que em outros, no entanto, é importante entendermos que se tratam de pilares co-dependentes e que um comportamento, normalmente, serve de um guia para o outro pilar.
Por exemplo: – é possível que sinais de fome sejam alterados por conta de um descanso noturno inadequado. – é provável que a ausência de planejamento e relações que nos fortalecem nos torne mais frágeis emocionalmente para mantermos melhores escolhas- é comum que uma alimentação inadequada e sem densidade nutricional nos coloque em um estado de “descanse” para nossa própria proteção, fazendo dessa forma com que nosso nível de atividade seja reduzido.
Qual a importância de mudar pequenos hábitos?
Cada pequena mudança tende a promover novos sinais. Portanto, a construção de pequenos hábitos nos conduz a uma necessidade de ajustar demais rotinas. Você nunca mudará sua vida até que mude algo que faz diariamente. Nosso cérebro tende a seguir caminhos conhecidos e repetir padrões já estabelecidos — e essa é uma ação que ele entende como protetora, pois evita um desgaste.
Pensar cansa! E aprender coisas novas demanda novas sinapses (caminhos percorridos por nosso cérebro). Portanto, para não “sobrecarregar” seu cérebro com alterações drásticas — difíceis de manter, justamente, por exigirem um excesso de energia — pequenos hábitos geram menores resistências. Ajustes gradativos em sua rotina permitem uma adaptação mais confortável às mudanças.
A constância é mais importante que o “tamanho” da mudança? Exemplo: se eu deixo de consumir bebidas açucaradas todos os dias, o efeito desse novo hábito é “melhor” – em termos de saúde – do que cortar apenas a sobremesa do fim de semana? Por quê?!
Só se cria um hábito por meio de repetições. Até 90% do nosso comportamento diário é baseado no hábito. Quase tudo o que fazemos durante o dia, todos os dias, é simplesmente um hábito. Por essa razão, um intervalo de 7 dias para se repetir uma ação é menos eficaz do que repetir diariamente uma nova atividade. Além disso, quando se trata de alimentação, não são as exceções (exemplo: a sobremesa do fim de semana) que impactam nossa saúde, mas sim aquilo que possuímos como padrão alimentar.
Qual dica você considera a mais importante para quem decidiu mudar de vida e não sabe por onde começar?
Comece fazendo uma lista do que realmente te incomoda em seu dia, pois às vezes acreditamos estar buscando conforto em hábitos que não nos deixam mais confortáveis dentro de nós mesmos.
Depois dessa primeira lista, faça uma lista do que realmente gostaria de fazer, qual o novo hábito que se encaixaria no lugar do que vem te incomodando.
Comece um de cada vez, quando atingir constância no primeiro, passe então para o segundo.
Vá aos poucos e comemore todas as suas novas conquistas.