Vitaminas na Gestação: Construindo Blocos de Vida

Vitaminas na gestação.

Na gestação, a mãe e o feto passam por uma fase de rápida transformação, com inúmeras alterações fisiológicas, anatômicas e metabólicas, tornando esse período de maior vulnerabilidade a alterações da dieta. Diante disso, uma adequada nutrição é essencial visando a formação de tecidos, órgãos e sistemas do bebê, desenvolvimento e crescimento da criança. Além disso, o consumo adequado de vitaminas na gestação, fornece os nutrientes necessários para que a mulher passe por este período sem apresentar possíveis deficiências e prejudicar a sua saúde e do seu bebê. 

Por que as vitaminas na gestação são importantes? 


A má alimentação é um problema frequentemente observado, e isso contribui para o maior risco de deficiências nutricionais, doenças crônicas, desnutrição ou obesidade. Apresentar um peso adequado para a idade e estatura não é sinal de uma nutrição adequada, uma vez que durante a gestação, a mulher pode estar ganhando o peso esperado, mas sem consumir as vitaminas importantes na gestação.

 

O consumo de uma grande variedade de alimentos in natura e minimamente processados, além da ingestão de água e de suplementos necessários, é uma das principais recomendações, pois ajudam a suprir a necessidade de nutrientes fundamentais para esse período da vida ácido fólico, cálcio e vitaminas A e D.  

Dessa maneira, favorece o bom desenvolvimento fetal, a saúde e o bem-estar da gestante, além de prevenir o surgimento de agravos, como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia ou eclampsia e ganho de peso excessivo. 

As vitaminas na gestação são importantes para prevenir o desenvolvimento de anemia e perda óssea, assim como defeitos no tubo neural do bebê, ajudando na formação de DNA e no crescimento do feto. 

Dentre as vitaminas na gestação, o ácido fólico deve ser suplementado antes da concepção e continuado até pelo menos os primeiros 28 dias de vida fetal para prevenir defeitos do tubo neural. A vitamina C deve ser administrada para as mulheres que fumam para diminuir a incidência de asma e chiado nas crianças.  

Diante disso, saber a importância de uma das vitaminas na gestação é de extrema importância para um adequado desenvolvimento do bebê e evitar deficiências nutricionais ou doenças na gestante.

Alimentos fontes de vitaminas na gestação.


Vitaminas na gestação: quais são essenciais? 


Ácido fólico 

Talvez seja a vitamina mais conhecida na gestação. Todas as mulheres que desejam engravidar, já começam a tomar ácido fólico (ou vitamina B9), pois sabem da importância desta vitamina na gestação. 

O folato é encontrado nos alimentos; já o ácido fólico é a forma sintética do folato encontrado em suplementos vitamínicos ou alimentos fortificados. Trata-se de uma das vitaminas do complexo B, essenciais para a formação do tubo neural do bebê que ocorre em até 28 dias após a concepção. Além disso, contribui para a síntese de DNA e divisão das células. 

O folato é necessário para a formação do cérebro e da medula espinhal. O tubo neural fecha até o 28º dia de gestação; se não fechar completamente, uma abertura na extremidade inferior da coluna vertebral causa a espinha bífida, enquanto um defeito maior pode levar à anencefalia (falha completa do cérebro para se desenvolver). 

Pesquisas observacionais (1,2) sugerem que o folato administrado na gravidez pode diminuir a incidência de trabalho de parto prematuro entre 20 e 32 semanas.  

Um estudo epidemiológico realizado em Pune na Índia, descobriu que uma combinação de baixos níveis de B12 no sangue e altos níveis de folato em mulheres no final da gravidez, estão associados a filhos pequenos e relativamente obesos com um alto nível de resistência à insulina (3). Isto porque a deficiência de vitamina B12 bloqueia o metabolismo do folato e leva a um acúmulo de um composto chamado 5-metiltetrahidrofolato, que pode ser a fonte do problema.  

Qual quantidade?


A quantidade de folato a ser ingerida durante a gestação é de 600mcg/ dia. A carência desta vitamina na gestação pode causar perda do apetite, náuseas, vômitos, diarreia, aftas, queda de cabelo e anemia megaloblástica na mulher; já no bebê, afetar especialmente o desenvolvimento do tubo neural, conforme já vimos.  

Além da suplementação recomendada por seu médico e/ou nutricionista, a ingestão de alimentos fonte é essencial. O folato é encontrado no espinafre, brócolis, couve, aspargo, couve de bruxelas, feijão, tomate, semente de gergelim e as vísceras, como fígado de boi ou de frango. 

Vitaminas B6 e B12 


A vitamina B6 (ou piridoxina) apresenta um papel importante no desenvolvimento do sistema nervoso, e parece contribuir para a prevenção da pré-eclâmpsia, condição em que a gestante tem aumento dos níveis da pressão arterial, acompanhado de perda de proteínas na urina ou disfunção de outros órgãos, e na prevenção do nascimento de bebês prematuros (6).  

As pesquisas tem mostrado que a suplementação de vitamina B6 tem sido associada a um ganho de peso adequado para o bebê (5). Para as gestantes, a vitamina B6 é uma boa aliada para redução de náuseas, vômitos e dor nas mamas. 

A vitamina B6 é encontrada em muitos alimentos, como carne, aves, peixes, vegetais e bananas.  Para gestantes, recomenda-se 1,9mg/dia. 

A vitamina b12, também denominada cobalamina, desempenha um papel central no desenvolvimento do cérebro e no desenvolvimento físico. No útero, o feto requer uma quantidade suficiente de vitamina B12 para um desenvolvimento saudável, uma vez que a deficiência desta vitamina pode gerar aborto, coma ou em danos neurológicos permanentes.  

A concentração de vitamina B12 na placenta e no sangue dos recém-nascidos é cerca de duas vezes maior do que a concentração no sangue da mãe, um sinal de como esta vitamina na gestação é essencial para um adequado desenvolvimento.   

Você sabia que o baixo nível de vitamina B12 tem sido associado a altos níveis de homocisteína? E consequentemente maior risco de pré-eclâmpsia e baixo peso ao nascer. A deficiência pode ocorrer especialmente em veganos que não tomam suplementos.  Normalmente, 17% a 39% das gestantes são deficientes em B12 pelo exame de sangue, mas isso não se correlacionou com complicações ou desfecho da gravidez (5).  

A recomendação de vitamina B12 na gestação é de 2,6 mcg/dia. E ela é encontrada na carne bovina, fígado bovino, ovos, leites e derivados, sardinha, atum e alimentos fortificados. 

Vitamina A 


A deficiência da vitamina A está associada principalmente a cegueira noturna. A vitamina A (retinol) é necessária para o funcionamento das células nervosas (fotorreceptores) sensíveis à luz na retina do olho e, com isso, ajuda a preservar a visão noturna.  

Além disso, contribui para a manutenção de uma pele saudável e o revestimento dos pulmões, do intestino e do trato urinário, protegendo contra infecções; sendo, portanto, uma vitamina essencial na gestação. 

Porém, deve-se tomar cuidado com o excesso de vitamina A, pois pode prejudicar o feto. A recomendação para gestantes é de 770mcg por dia, quantidade normalmente atingida ao consumir uma cenoura média.  

É muito difícil haver um consumo excessivo de vitamina A, a não ser em casos em que ocorre o consumo por meio de suplementos que apresentam grande quantidade do nutriente. Consumir mais de 3000 mcg por dia durante a gravidez, pode levar a malformações na face e crânio do bebê, como defeitos do pavilhão auricular, cegueira e atrofia óssea (testa, nariz pequeno, olhos separados).  

A vitamina deve ser preferencialmente obtida por meio de uma alimentação saudável. Incluir alimentos alaranjados como cenoura, abóbora e manga, ou leite, iogurte, ovos, brócolis e pimentão amarelo, contribui para a adequada ingestão desta vitamina na gestação. 

Gestante se exercitando.


Vitamina D 


Consumir vitamina D durante a gravidez é necessário para garantir o fornecimento adequado do cálcio para o feto visando o desenvolvimento mineral ósseo.  Aproximadamente 25 a 30 g de cálcio são transferidos para o esqueleto do feto durante a gravidez, sendo 250 mg/d no terceiro trimestre. 

A principal forma de obter a vitamina D é a partir da exposição ao sol diariamente; porém o nutriente pode ser encontrado em menores quantidades no salmão, ovo, leites fortificados e iogurtes. 

Concentrações sanguíneas de 25-OH vitamina D iguais ou superiores a 20 ng/mL estão associadas à boa saúde óssea, e valores de 32 ng/mL ou mais são esperados nos exames de sangue. Caso a gestante apresente valores menores, é necessária a suplementação que pode chegar a 4000 UI/dia, ou maior quantidade conforme recomendação médica. 

Foi demonstrado em um estudo que crianças que nasceram com níveis adequados de vitamina D, haveria uma redução de 43% na incidência de esquizofrenia quando adultos (7). Há também uma associação de deficiência de vitamina D e resistência à insulina na gestante. Alguns estudos relatam maior densidade óssea no bebê de mulheres com níveis adequados de vitamina D (8,9). 


Conclusão – para não esquecer 


Como vimos as vitaminas na gestação são imprescindíveis para um adequado desenvolvimento do bebê, assim como para uma gestação saudável e com bastante energia. 

Normalmente, as gestantes tomam um suplemento que fornece essas vitaminas em quantidades adequadas, porém, em casos de deficiência, a dose a ser adicionada deve ser conforme orientação médica e do nutricionista. 

Se você está gravida, não se esqueça de incluir as vitaminas na gestação, pois ajudarão você a passar por esse período de maneira tranquila e com muita saúde. E lembre-se: uma alimentação saudável e equilibrada também é essencial. 

Referências 

  1. Bukowski R, Malone FD, Porter FT, et al. Preconceptional folate supplementation and the risk of spontaneous preterm birth: a cohort study. PLoS Med. 2009;6:e1000061 

  1. Martí-Carvajal A, Peña-Martí G, Comunián-Carrasco G, et al. Prematurity and maternal folate deficiency: anemia during pregnancy study group results in Valencia, Venezuela. Arch Latinoam Nutr. 2004;54:45–49. 

  1. Herrick K, Phillips DIW, Haselden S, et al. Maternal consumption of a high-meat, low-carbohydrate diet in late pregnancy: relation to adult cortisol concentrations in the offspring. J Clin Endocrinol Metab. 2003;88:3554–3560.   

  1. Lowensohn RI, Stadler DD, Naze C. Current Concepts of Maternal Nutrition. Obstet Gynecol Surv. 2016 Aug;71(7):413-26. doi: 10.1097/OGX.0000000000000329. PMID: 27436176; PMCID: PMC4949006. 

  1. Dror DK, Allen LH. Interventions with vitamins B6, B12 and C in pregnancy. Paediatr Perinat Epidemiol. 2012;26(suppl 1):55–74. 

  1. Salam RA, Zuberi NF, Bhutta ZA. Pyridoxine (vitamin B6) supplementation during pregnancy or labour for maternal and neonatal outcomes. Cochrane Database of Systematic Reviews 2015, Issue 6. Art. No.: CD000179. DOI: 10.1002/14651858.CD000179.pub3 

  1. McGrath JJ, Burne TH, Feron F, et al. Developmental vitamin D deficiency and risk of schizophrenia: a 10-year update. Schizophr Bull. 2010;36:1073–1078. 

  1. Javaid MK, Crozier SR, Harvey NC, et al. Maternal vitamin D status during pregnancy and childhood bone mass at age 9 years: a longitudinal study [published correction appears in Lancet 2006;367(9521):1486]. Lancet. 2006;367:36–43. 

  1. Viljakainen HT, Korhonen T, Hytinantti T, et al. Maternal vitamin D status affects bone growth in early childhood—a prospective cohort study. Osteoporos Int. 2011;22:883–891. 

  1. Padivani RM et al. Dietary reference intakes: aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006.