Quando você deita a cabeça no travesseiro, as preocupações sobre problemas do futuro te impedem de ter um sono relaxante?
Você frequentemente ultrapassa o limite de vezes e doses estabelecido por você mesmo quando vai fazer ou consumir algo que te dá prazer?
Substâncias que você ingere já não têm provocado mais o mesmo efeito na sua mente e corpo?
Se para alguma dessas perguntas a sua resposta foi sim, você pode estar vivendo um vício e sua imunidade pode estar em risco.
“O vício, de uma forma generalista, é um hábito ruim, é um hábito que traz prejuízos pra vida da pessoa. Esse é um dos principais critérios pra gente identificar esse tipo de condição. Então, por exemplo, a gente pode sim ter vícios relacionados a uso de substâncias como álcool, cigarro, cocaína, maconha, enfim […] mas a gente também tem comportamentos que podem prejudicar a vida do indivíduo, como mais recentemente o uso de videogames, de rede social, de telas de modo geral, a gente observa que tem dados bastante robustos que esse tipo de estímulo pode levar a uma dependência”, diz o psicólogo João Paulino Perini.
Ele explica que o vício é caracterizado pela incapacidade do indivíduo de parar de usar aquela substância ou sequer diminuir o estímulo constante que ela provoca. A regra vale para uma droga de inalação, um comportamento natural como o sexo e até uma tela, por exemplo.
O vício – ou adição – pode derrubar a nossa imunidade por uma série de fatores. Além da sobrecarga química e dos impactos no sono, há ainda o impacto da abstinência.
Detox anti-dominó
A nutricionista Alessandra Feltre explica que o vício em substâncias como o álcool provoca um efeito dominó dentro do corpo até chegar na baixa da imunidade.
O álcool afeta a microbiota, conjunto de bactérias que ajudam na absorção dos nutrientes no sistema digestivo. Com a microbiota afetada, o sono piora. Num sono ruim, a síntese de neurotransmissores fica prejudicada.
“Quanto mais nós temos o uso dessas substâncias, o nosso corpo precisa ter um processo de desintoxicação muito eficiente, ou seja, a gente precisa de todos os minerais, de todos os nutrientes que participam desse processo aumentados”, diz.
É justamente quando a pessoa toma a decisão de parar, que – em paralelo ao tratamento psicológico – a nutrição poderia dar um suporte na retirada de substâncias tóxicas e na inclusão de nutrientes para essa recuperação, defende Alessandra.
João, no entanto, alerta que esse tipo de doença não tem cura. Para algumas pessoas, o impacto pode ser ainda mais grave. É o caso dos adolescentes, fase da vida onde ainda ocorrem maturações de sinapses, quando é desenvolvida a inteligência emocional.
Efeitos no sono
Pessoas que fazem uso de substâncias tóxicas têm dificuldade de ter um sono completo e reparador, para preservar a imunidade. Para se ter uma ideia do impacto disso, durante o sono profundo nós eliminamos um metabólito chamado ‘adenosina’ do cérebro.
Essa substância é varrida pelo líquido encéfalo raquidiano, que se movimenta mais rápido e limpa o cérebro. Uma pessoa intoxicada ou viciada, dificilmente consegue alcançar esse estágio.
Os hormônios da compulsão
Dois hormônios são decisivos para entender a ação de um vício dentro do nosso corpo.
O primeiro deles é a dopamina, que faz com que a gente se movimente em direção a um objetivo, como uma recompensa, por exemplo, ou simplesmente para evitar uma punição.
Já a serotonina é o hormônio da satisfação. “Você pode aumentar muito a dopamina com uma droga, mas isso não necessariamente vai te deixar feliz, muito pelo contrário. Provavelmente vai diminuir essa serotonina que geralmente causa essa sensação de bem estar na gente” conta o psicólogo.
Pra piorar, quando há um pico de dopamina acaba acontecendo uma queda abrupta, podendo gerar estresse, dor e sofrimento. E pessoas com maior dificuldade de manejo de estresse eram mais propensas a buscar recompensa imediata. E assim o ciclo do vício prossegue.
Abstinência
Um dos efeitos mais devastadores do vício no corpo é a abstinência.
É isso que acontece quando a pessoa se distancia do que provoca o vício temporariamente e começa a sentir falta de usar ou consumir. Os efeitos não são apenas psicológicos, mas especialmente físicos.
A abstinência de álcool dá tremores, excesso de suor, insônia e fissura, que é quando aquela pessoa fica aficcionada, motivada a buscar a droga de novo.
“Se ele ensinou o cérebro dele que aquela substância é muito importante pra ele se sentir bem, o que vai acontecer, ele tem dificuldade em sentir prazer, em sentir satisfação, se sentir motivado pra fazer outras atividades que potencialmente poderiam gerar prazer nele”, explica o psicólogo.
“Tratamento de adicção, de mudança de comportamento leva tempo. Não é uma coisa rápida. Pra não dizer semanas, leva meses e, em alguns casos, anos. Em outros, a vida toda. […] Bipolaridade, depressão, déficit de atenção e transtorno de ansiedade são algumas das comorbidades do uso e abuso de drogas”, explica João.
Para ouvir
O professor e pesquisador das relações entre atividade física e saúde mental, Felipe Schuch, conversou com as nutricionistas Roberta Carbonari e Alessandra Feltre. Escute a conversa na íntegra, clicando aqui.
*(B) Every move counts towards better health – says WHO *(C ) http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_atv_populacao.pdf