Nutrição na Infância: Como Influencia a Saúde na Vida Adulta

Mil dias. Quase três anos. Mais especificamente 270 dias dentro do útero e 730 dias fora da barriga da mãe. De tudo que acontece na sua vida, as experiências pelas quais você passa nesse período – chamado de intervalo de ouro – são as que mais afetam o seu desenvolvimento. 


Há tempos a ciência voltou os olhos para a primeiríssima infância. Não à toa: aos dois anos de idade, o cérebro já desenvolveu 80% da capacidade cognitiva *(A)


É a vida que se molda desde muito cedo entre contornos físicos, psicológicos e nutricionais. A alimentação da mãe, durante a gestação e, sobretudo, a do bebê nos primeiros anos de vida, dita como será a saúde no futuro.


Leite materno

A amamentação exclusiva até os seis meses de idade, aliada a uma introdução alimentar rica em proteínas, vitaminas e sais minerais – como recomenda a Organização Mundial da Saúde*(B) – evita uma série de doenças na vida adulta *(C)


Estudos científicos apontam que bebês amamentados viram adultos com menos riscos de ter diabetes tipo 2*(D), colesterol alto*(E), obesidade *(F) e problemas de pressão*(G)


O contato exclusivo com o leite materno ou com a fórmula durante o começo da vida interfere também no paladar*(H)


Dados epidemiológicos mostram que as crianças amamentadas têm padrões alimentares mais saudáveis em comparação com aquelas que foram alimentadas com fórmulas. Essas diferenças alimentares são atribuídas, em parte, pela oferta precoce de sabores diferentes daquele ao qual o bebê está habituado. 


Açúcares


Há um consenso entre pediatras, nutricionistas e pesquisadores: a quantidade de açúcar que deve ser ofertada ao bebê de até dois anos é ZERO.

 

Nada de biscoitos, refrigerantes ou alimentos ultraprocessados. A recomendação é para que as crianças sejam alimentadas com frutas, verduras, legumes, grãos e proteínas a partir dos seis meses de idade.

 

É nessa fase que deve começar a introdução alimentar, paralela aos sinais de prontidão, que incluem a capacidade de o bebê sentar sozinho.

A restrição de açúcar nessa fase está atrelada ao aumento no risco das doenças crônicas citadas logo acima, passíveis de terem os riscos diminuídos por meio da amamentação.

De olho na dificuldade dos pais nesse primeiro momento nutricional na vida dos filhos, o Ministério da Saúde criou um Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos. O documento traz informações sobre aleitamento materno, direitos relacionados à alimentação infantil e orientações sobre alimentos naturais, processados e produtos disponíveis no supermercado. Para saber mais, clique aqui *(I).

   

E os sucos? 

Bebês de até dois anos precisam de água. Água de coco e chás não substituem a água, embora possam ser ofertados para a criança, de forma esporádica – e sem açúcar.
 

Já em relação aos sucos de fruta, eles não são considerados necessários nessa idade. Isso porque a recomendação é que o bebê tenha contato com a fruta in natura para conhecer a textura, ingerir as fibras e praticar a mastigação.
 

Sucos fora de hora aumentam a chance de a criança ter cárie*(J), perder o apetite e ganhar peso. Caso queira ofertar o suco mesmo assim, o indicado é espremer a fruta, sem adoçar, num copo de no máximo 120 ml como parte de uma refeição, nunca nos intervalos.



Ultraprocessados


Embora as orientações dos nutricionistas soem familiares – e sensatas -, um estudo americano publicado na revista científica JAMA *(K) mostrou que, em 2018,  67% da dieta de crianças de 2 anos de idade a jovens de 19 anos era composta por alimentos ultraprocessados.
 

Já o consumo de alimentos saudáveis diminuiu de 28,8% para 23,5% num intervalo de dezenove anos – entre 1999 e 2018.

 

O resultado prático dessa proporção alimentar desequilibrada é a ausência da saciedade, a compulsão alimentar e o consequente aumento de peso, levando à quadros de obesidade.

 

Para lembrar


Os primeiros mil dias de vida de todas as pessoas determinam como será a vida delas no futuro.

 

Isso vale para os aspectos físico, psicológico e nutricional. Por isso, as escolhas alimentares nesse intervalo são fundamentais para minimizar os riscos de doenças na vida adulta.

 

E não tem chororô: quando o assunto é açúcar, a orientação é não oferecer nada doce para bebês de até 2 anos de idade.

 

*(A)Desenvolvimento cerebral estrutural e funcional de imagem na primeira infância – PMC (nih.gov)  

*(B) Alimentação infantil e infantil (who.int) 

*(C)Fatores de amamentação e risco cardiovascular e desfechos na vida posterior: evidências de estudos epidemiológicos – PubMed (nih.gov) 

*(D)Does breastfeeding influence risk of type 2 diabetes in later life? A quantitative analysis of published evidence – PubMed (nih.gov)

*(E)Does initial breastfeeding lead to lower blood cholesterol in adult life? A quantitative review of the evidence – PubMed (nih.gov)

*(F)Effect of infant feeding on the risk of obesity across the life course: a quantitative review of published evidence – PubMed (nih.gov)

*(G)Effect of breast feeding in infancy on blood pressure in later life: systematic review and meta-analysis – PubMed (nih.gov) 

*(H)A amamentação molda as preferências alimentares? Links para a Obesidade – PubMed (nih.gov) 

*(I) guia_da_crianca_2019.pdf 

*(J)SciELO – Brasil – Cárie precoce e severa na infância: uma abordagem integral Cárie precoce e severa na infância: uma abordagem integral

*(K)Trends in Consumption of Ultraprocessed Foods Among US Youths Aged 2-19 Years, 1999-2018 | Adolescent Medicine | JAMA | JAMA Network 

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